O mestre Rocha, como era vulgarmente conhecido, pai do Dr. José Henrique Rocha Lourenço e do António Manuel, era das pessoas mais estimadas no bairro do Corpo Santo. Morava numa rua nobre, conhecida por Caminho Novo e onde se situava (e situa ainda) a igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem. Ali no
Caminho Novo a malta da minha geração fazia as suas “peladinhas” e, muitas das vezes, lá ia a bola para o quintal do mestre Rocha, cuja família nunca se aborrecia com isso, só pediam, corretamente, que tivéssemos cuidado com as flores que estavam plantadas no quintal.
Mestre Rocha tinha a sua oficina de barbeiro no Pátio da Alfândega, ao lado do movimentado Café Atlântico e por baixo da Pensão Lisboa, cujo proprietário era o senhor Manuel Almeida, pai dos gémeos Almeidas. Mestre Rocha tinha a sua preferência clubística pelo Sport Angrense e cujo filho José Henrique lá jogou, nunca passando de reservista. Mas, hoje, como médico faz parte da seleção de elite do nosso país.
Recordo que um dia passava com um amigo meu (creio que já falecido) em frente à barbearia do mestre Rocha e naquele momento o dito cujo se saiu com esta: “aqui nunca fazia a barba, eu que sou lusitanista de gema”. Entendi logo aonde ele que chegar e foi então que perguntei: quem é o teu barbeiro? Ali na Rua das Minhas Terras, o Mário “Galhé” que é todo lusitanista. Entendi a opção do amigo, mas também fui adiantando: eu já cortei o cabelo e fiz a barba em ambos. O amigo não teve papas na língua: és melancia (quer dizer vermelho por dentro e verde por fora)? Nada disso amigo, você repare que os meus cabelos (da cabeça e da barba) são bem pretinhos. Ele encaixou a resposta sem voltar à carga. Coisas daquele tempo de acesa rivalidade clubística. Mestre Rocha do Angrense e uns metros acima (uns 100, quiçá) o Mário “Galhé” do Lusitânia. Hoje, felizmente, as pessoas têm outra mentalidade, não trilhando esses caminhos de rivalidades egoístas.
Sem comentários:
Enviar um comentário