Quando em 20 de agosto de 2004
zarpei para o Brasil tinha a noção de que se tratava de um país com problemas
de violência. No início, apercebi-me de que, efetivamente, todo o cuidado era
pouco nas maiores cidades, nomeadamente no Rio de Janeiro e em São Paulo, as
mais badaladas em função claro está do
enorme índice populacional, daí um maior
aglomerado das conhecidas favelas onde se movimenta o tráfico de drogas e
consequentemente a luta entre facões para um lugar privilegiado no que concerne
às vendas dos produtos adquiridos (e fabricados) pelas próprias. Nesse sentido,
um esgrimir que, pelos vistos, não terá apaziguamento, inclusive com a
intervenção policial. Os traficantes movimentam-se em toda e qualquer zona, de
acordo com o que nos tem sido dado a observar.
Foi visível que, neste espaço de
tempo (os tais 12 anos da minha permanência no Brasil), a violência grassou
assustadoramente. Mortes contínuas, assaltos a edifícios, ônibus (autocarros
para os portugueses), sequestros e por aí fora. Mas, como tudo isto tristemente
já não bastasse agora se constata, sobretudo em plena madrugada, os assaltos
dos encapuçados aos ônibus. E foi assim que, pela primeira vez, sentimos na
pele a ação desses assaltantes quando passávamos numa zona da Bahia, lugar esse
em que os bandidos surpreendem quem por ali passa em plena madrugada. Colocam
troncos de árvores na estrada para imobilizarem os veículos. Dos oito
assaltantes que compunham a quadrilha, três entraram no ônibus fortemente
armados gritando: “queremos celulares e dinheiro”. Óbvio que ninguém podia ali
reagir perante a mira das armas. Mas, o que mais nos chocou foi vermos uma
criança de oito meses com a arma apontada à sua cabeça e, também, um
paraplégico que seguia viagem e que, pela sua condição de deficiente físico,
pedia para que não mexesse com ele com a frase “eu sou paraplégico”, mas isso
não moveu o bandido que o abordava de qualquer sentimento para com aquele homem
sem pernas e imobilizado de um dos braços. Assustado ele gritava e recebeu do
assaltante um toque com a arma, com o intuito de fazê-lo calar. De resto,
também o paraplégico ficou sem o celular e o dinheiro que tinha para o resto da
viagem, aliás, à semelhança do que aconteceu com os restantes passageiros,
sobretudo aqueles que mais se intimidaram perante a agressividade desses
malfeitores, amigos do alheio imbuídos com um espírito de violência, muitos
deles sobre os efeitos das drogas.
E as notícias sobre assaltos a
ônibus tem sido uma constante. Em muitos casos há passageiros que são baleados
sem dó nem piedade. As empresas respectivas dizem que não têm
responsabilidades, uma vez que compete ao governo a segurança dos cidadãos. E
assim vai continuar o massacre a pessoas indefesas e que ficam privadas de uma
viagem tranquila, para além do dinheiro que lhes é roubado. Na minha viagem, eu
vi pessoas que ficaram sem dinheiro algum, mas, mesmo assim, e só neste caso, a
empresa Itapemirim deu almoço e transporte para seguirem para as suas próprias
casas.
E agora temos os motins nos presidiários com muitas mortes à
mistura. O sistema penitenciário no Brasil está o caos, maior incidência no que
se passa em Natal. Os presidiários já são os controladores dessas prisões.
Natal está em “pé de guerra” entre fações do tráfico, nomeadamente em Alcaçaz.
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