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domingo, 28 de janeiro de 2018

Carlos do Carmo um fadista conhecido nos quatro cantos do mundo


É longo o historial de Carlos do Carmo, um fadista amigo dos jornalistas, nomeadamente os de A Bola. Cheguei a reencontrá-lo no seu e nosso Bairro Alto. O condão de ter seguido as pegadas da mãe, a inesquecível fadista Lucília do Carmo. Vamos, pois, dar a conhecer um pouco do Carlos do Carmo, por via de uma pesquisa feita no Google. Por uma questão de princípio, não quisemos recorrer ao seu facebook.

Infância e juventude
Filho de Alfredo de Almeida, comerciante de livros e, posteriormente, proprietário da casa de fados O Faia, e de sua mulher, Lucília do Carmo, uma das mais populares fadistas de sempre, Carlos do Carmo nasceu na Mouraria, na Maternidade Magalhães Coutinho, e passou a infância no bairro da Bica.
 Estudou no Liceu Passos Manuel, antes de partir para a Suíça, onde frequentou o Institut auf dem Rosenberg, um colégio alemão situado em São Galo. Nessa escola, que frequentou durante três anos, estudou intensamente línguas estrangeiras, tornando-se fluente em francêsinglêsalemãoitaliano e espanhol. Depois, já em Genebra, obteve um diploma em Gestão Hoteleira.

Anos 60 — a carreira artística]
Empregado na Companhia Nacional de Navegação, a morte do pai, em 1962, levou Carlos do Carmo a assumir a gerência d' O Faia, que era já uma das casas de Fado mais concorridas da capital. N' O Faia começou a atuar para os amigos e clientes mais frequentes da casa, até que em 1964 abraçava definitivamente a carreira artística.
 O surgimento de Carlos do Carmo como fadista dá-se após gravar com Mário Simões uma versão de Loucura, fado de Júlio de Sousa, interpretado também por Lucília do Carmo.[6]O fadista afirma que escolheu o Loucura porque era o único fado de que sabia a letra.[7] Se bem que habituado a ouvir o Fado desde criança, quer na voz de sua mãe, quer na voz de outros intérpretes, como os fadistas populares que ouvia nas verbenas de Lisboa ou dos artistas que passavam pel'O Faia — Alfredo MarceneiroMaria Teresa de Noronha ou Carlos Ramos, para citar os que mais admirava[8] — o fadista viria a confessar que, nessa época, andava afastado da canção tradicional de Lisboa. Ganhara gosto, no limiar da adolescência, pela música de Luiz Gonzaga e Dorival Caymmi, até se deixar fascinar, pouco mais tarde, por Frank Sinatra e Jacques Brel.
 De resto, também o facto de passar vários anos no estrangeiro, contribuíra para que Carlos do Carmo se afastasse do Fado.
A interpretação gravada com o quarteto de Mário Simões é um desafio à forma tradicional de interpretação do Fado: Carlos do Carmo canta este tema acompanhado de piano, baixo, guitarra elétrica e um coro de vozes femininas.[10] A faixa começa a passar regularmente na rádio e, em consequência do sucesso que tem, o fadista estreante lança, logo no ano seguinte, um EP em nome próprio: Carlos do Carmo com Orquestra de Joaquim Luiz Gomes.
Em 1967 a Casa da Imprensa distingue-o com o prémio Melhor Intérprete e, em 1970, atribui-lhe o prémio Pozal Domingues de Melhor Disco do Ano, para o seu primeiro álbum, intitulado O Fado de Carlos do Carmo, editado pela Alvorada em 1969.
Seria o início de uma das mais exemplares carreiras do panorama musical português em geral, e do Fado em particular.
Ainda em 1964 casou com Maria Judite de Sousa Leal, com quem teve três filhos, Cila do Carmo, Alfredo Almeida e Gil do Carmo.

Carlos do Carmo (1976)
À entrada da década de 1970 Carlos do Carmo grava diversos EPs e LPs, como O Fado em Duas Gerações, Carlos do Carmo e Lucília do CarmoPor Morrer uma Andorinha ou Carlos do Carmo.
Entretanto, depois de algumas aparições na televisão, Carlos do Carmo surge em 1972 como produtor e apresentador de um programa semanal na RTP: o Convívio Musical, por onde passam alguns dos grandes nomes da canção portuguesa e internacional.
 Subsequentemente ao 25 de abril, no Festival RTP da Canção de 1976, em que esta adotou um modelo diferente do habitual, Carlos do Carmo foi o único intérprete. Cantou oito canções, previamente selecionadas por um júri de dois elementos: Manuel da Fonseca e Pedro Tamen. As canções foram No teu poema (José Luís Tinoco), Novo Fado alegre (José Carlos Ary dos SantosFernando Tordo), Os lobos e ninguém (José Luís Tinoco), Maria-criada, Maria-senhora (Tozé Brito), Flor de verde pinho (Manuel AlegreJosé Niza), Onde é que tu moras(Joaquim PessoaPaulo de Carvalho) e Estrela da tarde (Ary dos SantosFernando Tordo) — de entre estas seria Flor de Verde Pinho, poema de Manuel Alegre e música de José Niza, a canção mais votada pelo público e, por consequência, aquela que interpretou em representação de Portugal no XXI Festival Eurovisão. A participação daria o mote para a gravação do disco Uma Canção Para a Europa.
Referência obrigatória na história do Fado e na carreira de Carlos do Carmo é o disco Um Homem na Cidade, editado em 1977 pela Trova. Neste álbum o fadista interpreta poemas de José Carlos Ary dos Santos, aliados a um conjunto de composições musicais inovadoras, de autorias tão diversas como José Luís TinocoPaulo de CarvalhoAntónio Vitorino de AlmeidaFrederico de BritoFernando TordoJoaquim Luís GomesMário Moniz Pereira ou Martinho d'Assunção.
 Com efeito, Carlos do Carmo deve grande parte dos seus êxitos a Ary dos Santos, entre eles Um homem na cidade (letra de Ary dos Santos e música de José Luís Tinoco[16]), Lisboa, menina e moça (letra de Ary dos SantosJoaquim Pessoa e Fernando Tordo, e música de Paulo de Carvalho[17]), Estrela da Tarde (Ary dos SantosFernando Tordo), Novo Fado alegre (Ary dos SantosFernando Tordo[19]), O homem das castanhas (Ary dos SantosPaulo de Carvalho[20]), O amarelo da Carris (Ary dos SantosJosé Luís Tinoco[21]), Sonata de Outono (Ary dos SantosFernando Tordo), Nova Feira da Ladra (Ary dos Santos/Frederico de Brito), Fado varina (Ary dos SantosMário Moniz PereiraFado do Campo Grande (Ary dos SantosAntónio Vitorino d'Almeida[25]), Balada para uma velhinha (Ary dos SantosMartinho d'Assunção[26]), Menor maior (Ary dos SantosFado das HorasFado da Lezíria (Ary dos SantosTozé Brito
Mas o fadista irá trazer, ao longo da sua carreira, outros novos autores para o Fado, como José Luís Tinoco (No teu poemaOs lobos e ninguém), José Saramago (Aprendamos o rito), Manuela de Freitas (Fado Penélope), Vasco Graça Moura (Nasceu assim, cresceu assim), Nuno Júdice (Lisboa Oxalá), Maria do Rosário Pedreira (Pontas soltasVem, não te atrases), Fernando Pinto do Amaral (Fado da Saudade) ou Júlio Pomar (Fado do 112).
Anos 80 — atuações ao vivo e carreira internacional
Desde as suas atuações n'O Faia, inicialmente de forma informal para amigos, que se sucedem as apresentações ao vivo de Carlos do Carmo. As suas primeiras digressões foram realizadas ainda no início da década de 1970, com espectáculos em AngolaEUA e Canadá e, em 1973, estreou-se no Brasil, cantando ao lado de Elis Regina, no Copacabana PalaceRio de Janeiro.
A partir do ano de 1979, quando Carlos do Carmo abandona a gestão d'O Faia, intensifica as suas apresentações fora do país. As suas passagens no Olympia de Paris, na Ópera de Frankfurt, na Ópera de Wiesbaden, no Canecão do Rio de Janeiro, no Hotel Savoy de Helsínquia, no Teatro da Rainha em Haia, no Teatro de São Petersburgo, no Place des Arts em Montréal, no Tivoli de Copenhaga ou no Memorial da América Latina em São Paulo, são momentos muito altos na carreira do fadista. Em Portugal salienta as suas apresentações em locais como os coliseus de Lisboa e do Porto, o Casino Estoril, o Centro Cultural de Belém, o Mosteiro dos Jerónimos ou a Fundação Calouste Gulbenkian. Em entrevista ao jornal A Capital, Carlos do Carmo revela que: (...) cantar é um ato de prazer, mas sobretudo no palco, que é um constante jogo de sedução, uma troca indescritível de sentimentos e emoções (...).

Carlos do Carmo (1976)
Com efeito, a carreira internacional de Carlos do Carmo deve muito à sua passagem pelo Olympia de Paris, onde se apresentou pela primeira vez a 11 e 12 de outubro de 1980. A estreia foi bem sucedida e o fadista recorda o momento em que interpretou a canção La Valse A Mille Temps, de Jacques Brel: «A sala veio abaixo!» (cf. Carlos do Carmo: Um Homem no Mundo, in RTP Play). Seguiu-se a primeira atuação na Alte Oper de Frankfurt, em 1982, palco onde teve tal sucesso que a gravação do espectáculo foi editada em disco e regressou para atuar nos dois anos seguintes.
Outro facto assinalável nesta década e que marca a obra discográfica de Carlos do Carmo é o lançamento de Um Homem no País, em 1984, novamente um projeto em torno de poemas de Ary dos Santos, que se destaca como a primeira edição em formato CD de um artista português.
Anos 90 até à atualidade — novos originais e ligação às novas gerações do Fado]
No início de 1990 Carlos do Carmo sofre um acidente durante um espetáculo em Bordéus, caindo do palco para a primeira fila da plateia, uma queda de uma altura equivalente a um andar, que o obrigará a uma longa recuperação. Em março de 1991 faz o seu regresso no Casino Estoril, apresentando um espectáculo intitulado Vim Para o Fado e Fiquei.
Demonstrando inegáveis qualidades como comunicador, regressa à televisão, com um programa como o seu próprio nome — Carlos do Carmo — transmitido em mais de 30 emissões entre 1997 e 1998, onde o fadista conversa com diversos convidados, sobre temas que vão desde o Fado, à música em geral, mas também a outras vertentes artísticas.
Em 2007 Carlos do Carmo apresentou, no Museu do Fado, um álbum intitulado À Noite, que reúne textos inéditos de Nuno JúdiceFernando Pinto do AmaralMaria do Rosário PedreiraJúlio PomarLuís RepresasJosé Luís Tinoco e José Manuel Mendes, para as músicas de fados tradicionais da autoria de ArmandinhoJoaquim Campos e Alfredo Marceneiro.
Em 2010 junta-se ao pianista e compositor Bernardo Sassetti para fazer o álbum Carlos do Carmo & Bernardo Sassetti, onde recria canções marcantes de outros intérpretes, entre elas Cantigas do Maio (Zeca Afonso), Lisboa que amanhece (Sérgio Godinho), Porto sentido (Rui Veloso), Foi por ela (Fausto Bordalo Dias), Quand On N'a Que L'Amour (Jacques Brel) ou Gracias a la vida (Violeta Parra).
Desde o início da década de 2000, numa relação próxima com as novas gerações do Fado, Carlos do Carmo promove atuações conjuntas com novos fadistas. É o caso de Mariza; — Gala de Fado do Casino Estoril, a 8 de Junho de 2004, por exemplo — ou Camané; concerto de encerramento das Festas de Lisboa, nos jardins da Torre de Belém, em 2006, por exemplo.
Essas ligações seriam reforçadas com a edição, em 2014, do álbum Fado é amor, apresentado nesse ano no Coliseu dos Recreios, onde o fadista apresenta temas gravados com CamanéMarizaAna MouraAldina DuarteCristina BrancoMafalda ArnauthRicardo RibeiroMarco RodriguesRaquel Tavares e Carminho.
Prémios e distinçõs
Carlos do Carmo foi por duas vezes agraciado pela Presidência da República com graus honoríficos — no final da década de 90, mais precisamente, a 4 de Setembro de 1997, o Presidente Jorge Sampaio atribuiu-lhe o grau de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique;[39] posteriormente, a 3 de dezembro de 2016 Marcelo Rebelo de Sousa atribuiu ao fadista a distinção de Grande-Oficial da Ordem do Mérito.
Em 2004 o então Presidente da Câmara Municipal de LisboaPedro Santana Lopes, atribuiu-lhe a Medalha de Mérito Municipal, de grau ouro, o mais elevado.
Carlos do Carmo recebeu diversos outros prémios, atribuídos pelos seus álbuns ou pela sua carreira — em 1991, a Casa da Imprensa, entrega-lhe o prémio Prestígio, no âmbito da Grande Noite do Fado. Em 1998, a SIC e a revista Caras atribui-lhe o Globo de Ouro de Excelência e Mérito; uma distinção que antes tinha sido atribuída a Mário SoaresDavid Mourão-Ferreira ou Ruy de Carvalho.[41] Já em 2002, o álbum Nove Fados e Uma Canção de Amor, valeu-lhe um Globo na categoria de Melhor Disco do Ano.
Em 2003 recebeu o Prémio José Afonso, atribuído pela Câmara Municipal da Amadora, na sequência do qual foi publicado o livro Carlos do Carmo, do Fado e do Mundo, uma entrevista biográfica realizada por Viriato Teles.
Em 2008 recebeu em Espanha, em conjunto com o poeta Fernando Pinto do Amaral, o prestigiado Prémio Goya, na categoria de Melhor Canção Original, com o Fado da Saudade. A canção faz parte da banda sonora do filme Fados, que concorria à edição de 2008 daqueles que são considerados os óscares espanhóis. No entanto foram levantadas dúvidas sobre a verdadeira autoria deste fado.
Em 2014 torna-se, a par da soprano Elisabete Matos,[43] no segundo artista português a ganhar um Grammy, obtido na categoria Lifetime Achievement, entregue apenas aos artistas pelo conjunto da obra que produziram ao longo da sua carreira e não devido ao êxito que lograram com determinada canção ou álbum. No mesmo ano, a 19 de novembro, o fadista recebe o Grammy Latino de Carreira, no Hollywood MGM de Las Vegas.
Na sequência do prémio volta a ser homenageado pela Câmara Municipal de Lisboa, que lhe outorga, pela mão de António Costa, uma nova Medalha de Mérito Municipal.
Também a Rádio Comercial lhe prestou uma singular homenagem, ao produzir um vídeo onde 35 cantores portugueses de diferentes gerações cantam Lisboa Menina e Moça, entre eles Paulo de CarvalhoJorge PalmaRui ReininhoCamanéMarizaAna MouraTiago Bettencourt ou David Fonseca.




Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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