485º Aniversário da Cidade de Angra do Heroísmo

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Da escritora Graziela Veiga - RUGAS


 RUGAS 

As rugas aparecem somente para nos fazerem lembrar o lugar onde estiveram os sorrisos. Por isso, cada ruga que eu encontro no meu rosto, é o reflexo de uma alegria inesperada que eu já não me lembro bem, mas que transformou a minha vida. 

Há rugas que guardam o mistério e a beleza da passagem do tempo e das alegrias vividas. 

Os sorrisos enrugam o rosto e franzem os olhos, mas exercem um grande poder sobre nós, forjem um olhar limpo e nobre que nos enche de bondade. 

A beleza invejável é aquela que repousa toda a felicidade, é a capacidade de sentir, aceitar e desfrutar as nossas emoções. 

Não quero que me tirem as rugas, pois levei uma vida inteira para as conseguir. Agora que elas apareceram, sinto um enorme orgulho, pois cada uma delas conta a sua história. São rugas que me enobrecem, que valorizam pela pessoa que me tornei. 

Os anos enrugam a pele, mas só o abandono do entusiasmo enruga a alma. 

Cada dia que passa, tenho nas minhas mãos a decisão de vestir um sorriso ou uma triste decepção. E com o tempo, eu consigo ver que valeu a pena...o tempo ajuda-me a esperar, apaga o efémero e acaba com a dúvida. 

As rugas são a comprovação que houve uma vida repleta de diferentes momentos. 

A velhice é mais do que cabelos brancos e rugas. É termos a noção que o palco já pertence a outra geração. Porém, a verdadeira doença da velhice não é o enfraquecimento do corpo, mas a apatia da alma. 

Quero que a minha pele envelheça, mas jamais permitirei que o meu coração fique indiferente ao amor. Que eu nunca perca a oportunidade de demonstrar um simples gesto de ternura. 

Que as rugas da vida nunca escondam o sorriso da criança que um dia fui. As rugas são a vida a rir-se de mim, por isso, divirto-me com elas, convicta que ganhei fortes aliadas. Elas ensinam-me o caminho, estão para além da aparência. Elas são a minha essência. A beleza física passa, mas a beleza da alma jamais, pois ela suscita a sabedoria. Uma fronte sem rugas denota insensibilidade. 

As rugas trazem beleza e tranquilidade, mas também transtornos. Deixam marcas com lembranças indeléveis de sabedoria. São a comprovação que houve uma vida plena de diferentes momentos. 

Amadurecer é uma dádiva, ficar velha não tem escolha. As minha rugas são as minhas lutas, por isso, sinto um grande orgulho nelas. São o sinal que a vida tem sido muito generosa para comigo. Ela presenteou-me com pessoas para amar...cuidar, mormente a minha filha,  e dar a vida, se preciso for. 

Jamais mudarei as minhas rugas, o meu carácter, a minha honestidade e a satisfação de viver com alegria. 

O tempo irá passar, mas sem antes deixar marcas na pele, as minhas rugas, cicatrizes guardadas na alma, mas muitas lembranças boas, guardadas no compasso do meu coração. 

Enquanto alguns contam as rugas, eu prefiro contar os meus sorrisos num simples gesto de ternura. 

13.10.2020

Graziela Veiga

Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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