Carlos Melo Bento
Divagações
Quando estudei em Lisboa deu-me para percorrer os túmulos dos reis de Portugal, obras escultóricas, por vezes, do mais belo do mundo. Depois, fui fazer o mesmo com os primeiros-ministros, coisa mais difícil. Mesmo assim, vi alguns bem significativos. O de João das Regras, em Benfica, transparece um rosto de grande poder, expressão inteligente e magnânima de quem sabe o que o regime e o rei lhe devem. Mas o que mais trabalho deu foi o Marquês de Pombal. Procurei-o em toda a parte. O homem a que o país ergueu a mais imponente estátua num imponentíssimo lugar, não estava em parte nenhuma. O reconstrutor de Lisboa e do país. O reformador da Universidade. O restaurador do poder real contra as classes possidentes. Procurei-o em templos por ele restaurados. Busquei-o no Palácio dos Carvalhos, à Rua do Século. Na monumental Igreja perto do lugar onde nasceu. Fui a Oeiras de que foi Conde e a Pombal donde foi Marquês. Nada vezes nada. Perguntei às pessoas que normalmente sabem destas coisas. Nem uma pista. Mas que raio, esse Homem que até os republicanos da primeira República homenagearam (eles é que mandaram fazer a grande estátua de Lisboa) não foi sepultado? Até que, por mera sorte, visitando a Igreja da Memória que o Marquês mandou erguer para lembrar o vil atentado contra o seu rei, vi na sacristia, por detrás duma porta, um modesto caixão de madeira envernizada. Perguntei ao sacristão quem estava ali “encaixotado” e a resposta espantou-me: - O Marquês! O tal de “Mal por mal, Marquês de Pombal”. Esse. Lembrei-me dessa história por causa do túmulo de Franco em Espanha que agora certos políticos querem retirar do grandioso Vale dos Caídos, por ele mandado construir para repousarem os espanhóis de ambos os campos daquela sangrenta guerra civil, e colocar num lugar onde não possa ser achado. Assim, atrás duma porta numa sacristia qualquer.
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